sábado, 30 de agosto de 2014
O Sopro de Ganesha
Amigos,
O mundo não precisa de novas máquinas e incríveis descobertas, precisa antes de tudo de mais amor. E na busca por essa compreensão é importante para nossa mente ser tocada e transformada por coisas boas, arte, música, poesia, histórias…
Se as linhas do destino estão prontas, cabendo a nós escolher as palavras e a forma de escrever, que Deus nos ilumine para escrevermos bem essas linhas. Em alguns momentos avançando nos parágrafos, ajudando a colocar um ponto final naquilo que não nos cabe mais. Quem sabe até a melhorar nossa caligrafia. Por que, não?
A história que eu trago hoje, aconteceu no início da Era de Kali, na cidade que hoje é conhecida como Bengaluru, mais ao Sul da Índia. É a história de um homem que se perdeu e se encontrou nos braços do Senhor.
Assim, como foi uma história que aconteceu num lugar distante, em um tempo remoto... É uma história que acontece nos dias de hoje, dentro de cada um de nós.
Existia uma mulher muito devota ao Senhor Ganesha, que iria dar a luz ao seu primeiro filho. Aquele dia era um final de tarde e fazia muito calor naquela região. Num quarto simples, iluminado por uma lamparina, uma cama forrada no chão de terra batida, alguns panos limpos e tigelas com água quente, que as parteiras utilizavam nos partos.
Durante o parto, a mãe e o bebê começaram a ter complicações. Ela já fraca e quase morrendo, depois de muitas horas tentando, o bebê não nascia. Mesmo com a ajuda das duas parteiras que estavam ali conduzindo todo o parto.
Elas ficaram surpresas quando viram que aquela mulher começara a orar.
Já em seu leito de morte, parecia serena e segura, nunca haviam visto tamanha fé e lucidez em um momento tão desesperador. Contaram que ela simplesmente juntou as mãos como se direcionasse a oração aos céus e começou:
- Senhor Ganeha, Tu que representa o equilíbrio perfeito entre a força e a bondade; poder e a beleza. Tu que tens a capacidade do discernimento, separando a verdade da ilusão, o real do irreal... Me socorre grande Pai! Me permita a Graça de ser mãe! Eu coloco a vida de meu filho em Tuas mãos!
O que aquelas parteiras não sabiam, é que não se tratava de uma mulher comum. E sim, de uma verdadeira devota do Senhor. Porque, um devoto e Deus são como Nara e Naraya, um imã inseparável.
Essa moça tinha o coração tão puro, que até os botões de rosa disputavam entre si quem abriria primeiro só pra agradar aos olhos dela.
Tinha o cabelo comprido, mais preto que as asas de uma graúna. Que a essa altura já estavam emaranhados e ensopados pela luta de vida e morte que ali estava sendo travada.
Pouco tempo depois, bate um homem a casa, se identificando como um médico de uma cidade distante, dizendo que recebeu o recado dos vizinhos. Num ato de surpresa e desespero para salvar a vida da sua mulher, o marido permitiu que ele entrasse na casa e a ajudasse no que fosse possível.
Ele trazia consigo um pouco de água de côco, passando na testa e sobre o ventre da mãe. E foi na simplicidade daquele pequeno quarto que um milagre aconteceu...
Após muito esforço, o bebê nasceu com o cordão umbilical enrolado do pescoço. Já roxo, sem se mover ou respirar. Aquele homem pegou o bebê nos braços, limpou a pequena boquinha com um movimento dos dedos e soprou para dentro do peito do bebê.
O silêncio se fez presente, todos criaram grande expectativa. Até que, como um raio que corta os céus, o choro do bebê é ouvido por todos. A mãe chorava mais ainda de alegria. As parteiras, mudas, espantadas pelo que acabaram de presenciar.
O bebê recebeu o nome de Surya, cresceu saudável, inteligente e auspicioso. Era uma criança adorável, que mesmo em tenra idade impressionava os mais velhos pelo seu interesse em aprender - não só as coisas de criança, mas os ensinamentos sobre Deus - em especial, os louvores que sua mãe entoava diariamente ao Senhor Ganesha.
Alguns anos depois, uma fatalidade se abateu sobre aquela região. As condições daquele povo humilde sem saneamento básico, muitas vezes, alastravam as pestes que dizimavam distritos inteiros. E com apenas sete anos de idade, o menino se viu órfão de mãe.
Ainda aplicado nos ensinamentos da mãe, ele orou por meses ao Senhor Ganesha para trazê-la de volta. Nas areias do tempo e do destino, sua esperança se esvaiu.
O menino cresceu criado por um pai cético e materialista.
Apesar de poucas posses, era escravo daquilo que não tinha. Pois, existem pessoas escravas daquilo que têm e pessoas escravas daquilo que não têm. Desejando, desejando e desejando... De forma desmedida.
Disfarçada de progresso, a Kali Yuga, tomou a mente de muitos homens daquele tempo. Inclusive do nosso menino, que a essa altura já havia crescido e se tornado um pequeno comerciante da região.
E sempre que se aproximava o Festinal de Ganesha Chaturthi, ele se recolhia, uma vez que ao ver a imagem do Senhor Ganesha, as lembranças da mãe eram inevitáveis para ele. Ele nunca superou a perda da mãe.
Em um desses dias, enquanto Surya andava pelos arrabaldes da cidade, onde os festejos não poderiam encontrá-lo, ele viu um menino sentado na calçada.
Ali, absorto em sua tristeza, Surya teve o impulso de ajudá-lo. Colocou a mão no bolso, apanhando algumas rúpias e estendeu para o menino pegar. O menino olhou bem ao fundo dos olhos dele, sorriu e fechou a mão do seu bem feitor, como se dissesse: - Obrigado, pode ficar.
Estendeu de sua pequena mãozinha, um pedaço de madeira, que parecia ser a tentativa de algo entalhado em uma oferta desprendida de amor. Ainda desconcertado e meio sem jeito, Surya guardou o pequeno presente no bolso, agradeceu e continuou andando.
No fim daquele dia, quando se preparava para dormir, ele tocou o bolso e sentiu o volume. A lembrança do menino lhe veio a mente. Ele riu, quando reparou que o menino parecia demais a ele mesmo quando criança. E quando olhou a pequena escultura, ficou emocionado... Era Ganesha, esculpido em um pedaço de Cerejeira. Encantado com os detalhes ali, muito bem ornamentados: as orelhas grandes, olhos cerrados em concentração, a posição das mãos... Tudo simétrico, simples e especial.
Ele colocou a imagem na cabeceira da cama e orou antes de dormir, como há muito tempo não fazia. Enquanto dormia, teve um sonho que estava preso em um lugar escuro, bem ao longe se via uma pequena luz... Caminhou até lá. E ao se aproximar, viu que era a pequena imagem de Ganesha que havia ganhado. Dela se irradiou uma luz que abriu um caminho. Surya, não sabia dizer se era uma escada ou um túnel, apenas prosseguiu.
Quando chegou ao final, teve que subitamente cerrar os seus olhos, pois uma luz que refletia fortemente em seu rosto. Era o reflexo do sol em uma espécie de regador de prata. O bocal era no formato da tromba de Ganesha, tinha adornos em relevo, uma peça de beleza incomparável.
Ele foi acompanhando aquele objeto inusitado sendo manuseado habilmente. A água caindo sobre as flores, as plantas.... Só agora ele reparava que estava em um jardim. Eram tulipas, rosas... Havia uma fonte. Ali parecia residir toda a harmonia nos matizes de cores que a natureza insiste em nos abençoar.
Seguindo o movimento da mão, encontrou sua mãe sorrindo, reluzente como um anjo. Aguardando por ele enquanto cuidava do jardim. Ele ajoelhou no chão chorando e agradecendo, pois, achava que nunca mais iria ver sua mãe.
Ela veio... E finalmente, mãe e filho se abraçaram enquanto ela dizia:
Meu filho o verdadeiro amor (prema) é aquele que nos ajuda a atravessar os obstáculos frente aos caminhos da vida. Ame a Deus de todo o seu coração, pois, a sua vida é graças ao sopro de vida do Senhor. Nosso Pai piedoso, um Deus de plena sabedoria e de amor.
Preserve o amor contra o envenenamento da ilusão da solidão, pois, você nunca está só.
Esforce-se para cultivar os sentimentos desprovidos de vaidade, livres de preconceitos entre as pessoas. Peça perdão e perdoe sempre.
Agora, volte e siga os seus passos com amor e alegria. Você tem a minha benção e o amor de Deus a lhe guiar a cada dia.
Om Sai Ram
Diogo Guedes
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Precioso!!
ResponderExcluirGratidão pela linda mensagem!
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