sábado, 7 de maio de 2011

A xícara e o açucareiro


           Minha avó em sua sabedoria dos oitenta anos, tendo criado cinco filhos, dezoito netos e vários bisnetos sempre dizia: cada um é cada um. Amei muito minha avó, exemplo de serenidade frente aos altos e baixos da vida. Casou fugida e amou profundamente meu avô como se ele fosse um príncipe. Claro que ele era apenas uma pessoa normal, com um lindo coração, porém cheio de manias e rabugentices, mas devo confessar que eu também o amava além das medidas. E não consigo conter as lágrimas de saudades quando lembro deles.


           O grande ensinamento que deixaram, amar...amar sem medidas, sem preconceitos, sem exigências dando espaço para as pessoas serem quem são, respeitando as diferenças de cada um. Mas sei que esse sentimento cheio de compreensão não surgiu naturalmente na vida deles. Eles aprenderam atravessando muitas provas duras, pois assim é a vida, e essa é a melhor maneira que temos de enfrentar as desventuras e decepções.

           Passei minha infância inteira com eles, vendo meu avô preparar o café todas as manhãs. Era um ritual, lavar o coador de pano, escaldar, arear a chaleira, moer o grão, colocar as velhas xícaras na mesa. Ficava em silêncio admirando os gestos corriqueiros do primeiro amor da minha vida. Como faço hoje vendo meu marido usar a prensa francesa, e moer os grãos especiais de café que trás de suas viagens e que ganha de seus amigos. Como o tempo interfere nos rituais !!


           Como os tempos mudaram... Não sou mais criança, mas o amor que sentia por meus avos continua o mesmo, fresco, inteiro sem perder a intensidade. Acho que o amor deve ser assim, algo que não se perde, não se esquece, nem esmorece. A gente muda, a família muda, as pessoas vão embora de nossa vida, outras chegam. Nos aproximamos por afinidade de alguns, de outros por compromisso, e vamos convivendo. Assim também acontece com nossos guias espirituais. Eles vão se aproximando de nós por amor, e pela abertura que damos a eles. Vem para nossa vida aceitando nossas escolhas, respeitando nosso tempo, compreendendo nossas limitações.
           E nós como nos portamos na vida?
           Será que amamos o suficiente?
           Será que compreendemos e aceitamos as pessoas como elas são como fazem nossos guias, como fizeram aqueles que nos criaram?

           Sei que muita gente teve uma infância difícil e não carregam boas lembranças, mas com certeza se procurarmos com cuidado vamos encontrar sempre referencias afetivas do bem. E vale lembrar que sempre podemos criar novas relações de amor com as pessoa, desde que respeitemos a sua individualidade.
           Tudo isso me veio a mente quando numa vivência no grupo de Vidas Passadas de repente a Folhinha, minha linda guia de 7 anos de idade, veio perguntando: vocês conhecem a piada da xícara?
As pessoas se entreolharam curiosas, como sempre sem saber direito o que responder, já que aqueles que já conhecem a Folhinha sabem que ela fala por símbolos, e tem um objetivo em suas brincadeiras.




          "Quando o açucareiro perde a asa ele vira xícara", disse ela rindo para o grupo atento.
          "Cada um tem sua função na vida", disse ela falando sobre o caminho de cada um.
          "Não tem problema perder a asa, não tem problema a escolha sexual das pessoas... O homem pode ser homem e gostar de homem, e a mulher pode ser mulher e gostar de mulher. O que vale é o amor", disse ela abordando inesperadamente a questão sexual. Depois continuando seu surpreendente discurso ela falou: "Vocês não devem perder mais tempo tendo preconceito, cada um é cada um. O amor é o que vale. Se o açucareiro perder a asa ele vira xícara e continua sendo útil. E voce ainda pode tomar café nele".



          Com isso o grupo que tinha trabalhado uma história de dor de repente ficou leve, as pessoas riram muito de suas explicaçōes e levaram consigo mais alguns desafiantes aprendizados, sobre amor e convivência com as diferenças.
         Amar sem preconceitos, aceitar o outro como ele é, respeitar o tempo e as escolhas daqueles que estão no nosso caminho. Se fizermos isso com certeza nossa vida será muito mais feliz, muito mais calorosa e cheia de amor, afinal se o açucareiro pode perder a asa, e nós podemos quebrar o Ego, nos aproximar dos outros, mostrar nossas fragilidades, e respeitar as dos outros também. Penso que é assim o mundo iluminado da nova era, um mundo em que cada um tem o seu lugar, luz e beleza.

          Numa semana em que tanto se falou sobre aceitação da diversidade observo com o coração cheio de esperança este movimento e desejo que realmente as pessoas acolham melhor as diferenças e se amem mais.


        Um beijo a todos,



Maria Silvia

5 comentários :

  1. Como é bom o sentimento do amor, o amor é puro, sem fronteiras, sem rótulos, ele é e pronto. Sinto esse amor puro e inocente tda vez que faço carinho na minha cachorrinha! Ela se deita, se aconchega e se derrete toda apenas em troca de um carinho de sua dona! Como é puro , inocente e divino essa troca de amor. É como deveria ser com todos os seres humanos!

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  2. Muito bonita sua mensagem. Me fez recordar minha infância,tive também essa relação com meus avós. Fique com Deus.

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  3. Como sempre você consegue em um texto abordar questões tão profundas que vão além da compreensão humana. Obrigada por partilhar conosco esses ensinamentos.

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  4. Como sempre você consegue abordar assuntos polêmicos com uma leveza sem igual. Obrigada por compartilhar conosco esses ensinamentos.

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  5. Ao ler este post fiquei me lembrando em quantos caquinhos do meu bule me tornei. Primeiro tornei-me xíacara. Não suficiente Baba e os mestres me tornaram um potinho sem asas. E pedindo a eles que me mostrassem mais e mais de mim, quebraram alguns pedacinhos da borda. Nada que me tornasse sem uso. Coladinha, hoje, já tenho asas de novo, para me tornar xícara. Mas nao quero ser o bule, pelo menos não por enquanto.

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