quinta-feira, 3 de maio de 2012

Canalização - Para onde você vai?

Altar da Chama Amarela por Nô Figueiredo
Nome Chave: Para onde você vai?
Mestre: Lanto
Data: 09/05/2012
Local: Espaço Alpha Lux
Canal: Maria Silvia Orlovas
Áudio: 
 ALPHA LUX 16 ANO 14  (mp3) - Clique aqui 

Para onde você vai?

  Eu fui um monge, e um dia me perguntaram para onde eu ia.

Naquele tempo eu estava havia muito pouco tempo envolvido nesse caminho espiritual.

Eu não sabia muito bem os meus objetivos; eu sabia apenas que eu estava fugindo do mundo, fugindo de desavenças na minha casa, de situações de pobreza, de muito desgaste emocional. E eu achava a minha família a pior família do mundo, porque eram muitos conflitos.

 

E eu me senti muito importante, muito feliz e especial quando eu raspei o meu cabelo, quando eu vesti as vestes do monge. 

Novas, reluzentes, brilhantes, sem histórias, como uma roupa nova deve ser. E naquele tempo eu valorizava muito as coisas novas, eu mesmo era novo. E eu achava que eu tinha, que eu teria que fazer a minha vida, e que o voto pelo caminho espiritual seria tudo de bom para mim. E quando me perguntaram pra onde eu ia, eu fiquei muito perplexo com a pergunta porque eu não tinha a menor ideia, eu iria aonde me mandassem.

Eu estava chegando naquele mosteiro, eu estava chegando naquele Ordem e eu iria para onde o vento soprasse, o vento dos meus superiores. E quando a pessoa me perguntou para onde eu ia, toda aquela sensação maravilhosa de estar com aquela roupa nova de repente desapareceu, porque percebi que eu não sabia para onde eu ia. 

Percebi que o meu destino não estava nas minhas mãos, eu percebi que eu havia me desligado de uma família em busca de um caminho espiritual e que eu estava caindo numa outra família. E quanto mais eu pensei no que eu iria responder para aquela pessoa que me perguntou, menos resposta eu tive.

Eu busquei dentro de mim, eu queria falar algo bom, algo que fosse impactante, bonito. Porque eu imaginei que um monge tinha que ter respostas, um monge tinha que saber o que dizer, tinha que saber o que aconselhar. E foi aí o primeiro momento em que eu entendi o velho ditado “As vestes não fazem um monge”. 

Eu não me fiz monge naquela resposta, nem tampouco na pergunta.

E o tempo que se seguiu a esse foi um tempo muito difícil para mim, porque eu vi que eu tinha fugido de muitos conflitos, que eu não gostava de conflito. Que eu tinha medo das brigas, que eu tinha medo das pessoas. Que eu não queria magoar as pessoas, que eu não queria dizer para elas as minhas verdades, que eu não queria ter verdades.


Eu observei que eu era muito humano, e que eu queria me dar bem com todo mundo, eu queria ser amoroso com tudo mundo, eu queria que todo mundo fosse amoroso comigo, o mundo perfeito, o mundo sem conflito. 

Era isso que eu sentia, era isso que eu pensava, e por isso eu fugi da minha família.

A minha família era cheia de conflitos e as pessoas eram cheias de complicações, de ambições, de sonhos, de disputas, de competição. E aí me deram muito chão para varrer, me deram muitos muros para limpar, para pintar, batatas pra descascar, banheiros para arrumar. E eu fiquei muito chateado com a minha vida de monastério porque era só trabalho.

Para quem achava que teria grandes experiências espirituais, que iria fazer orações, e nas orações - porque eu era um monge - iria ter grandes encontros com Deus, com santos, com espíritos e almas iluminadas, eu me deparei numa vida muito corriqueira, talvez mais simples do que a vida que meu pai levava. 

 

Meu pai era um homem das letras, ele sabia escrever, ele recitava poemas. E de repente eu, que tinha tanta vontade de me distanciar do meu pai, que busquei tanto estar longe daquela família, comecei a sentir saudades dele. E enquanto eu varria o chão, eu pensava o quanto eu tinha desprezado a vida que ele quis me oferecer. E parecia um castigo, mas todas as vezes em que eu me lembrava daquele passado, eu tinha serviços mais humildes para fazer. Pensei muito no meu pai enquanto limpei banheiro. Porque eu desprezei as coisas que ele tinha para me oferecer, olhando para o lado ruim daquilo que ele também tinha. 

 

E foi nesse período que as minhas vestes se sujaram e se gastaram muito, e que meu cabelo cresceu muitas vezes, e que muitas vezes eu tive que cortar de novo, porque eu não tinha o privilégio que outros tinham, de não ter cabelos. 

Eu era uma pessoa cabeluda, e foi muito cansativo muitas vezes tirar os cabelos. E, ao mesmo tempo eu pensava assim "Que também tire os meus maus pensamentos." Porque eu me lembrava dos meus irmãos, eu me lembrava da minha mãe. 

E tantas foram as lembranças de um tempo que eu não sei precisar, o tempo que eu vivi nesse monastério, que eles me deram o direito de ver a minha família.

E quando eu me encontrei com eles, eu percebi que eu estava muito mais silencioso, que eu tinha forças para me manter em silêncio, para ouvir aquelas pessoas, para observar os seus gestos, para observar os seus movimentos. 

Eu vi que eu tinha o meu silêncio para oferecer a eles. E através do meu silêncio eu ouvi tantas histórias que eu nunca ouvi, e que essas pessoas sempre falaram para mim. Mas eu era jovem, e eu não tinha paciência de ouvir ninguém, e eu achava que a minha verdade era a grande verdade. E eu não tinha nenhuma preocupação em me colocar no lugar do outro, para ouvir a vida do outro, eu queria colocar a minha verdade. E, de repente, eu estava ali ouvindo.

E eu fui tratado com bons olhos, e eu fui recebido mais forte no coração porque eu me permiti sentir com o coração. 

E aquilo abrandou muitos dos meus sentimentos, abrandou muito das minhas dores, me trouxe força. 

E quando eu voltei para o monastério, eu sabia que eu estava dando um passo importante. E se alguém me perguntasse para onde eu ia naquele momento, eu saberia a resposta: eu estava indo para um lugar a que só eu podia ir, e esse lugar era o meu coração. 

Depois desse tempo, eu entendi que a espiritualidade estava no meu coração. E que aquela paz que eu queria tanto ver nos relacionamentos, nas pessoas, no mundo, tinha que estar dentro de mim.

E eu entendi também que a paz tem início no silêncio.

E não apenas no silêncio dos lábios que não se movem, da língua que não é usada para soprar sons, mas no silêncio do coração sem conflito, no silêncio da mente sem julgamento, no silêncio dos olhos que se deixam conduzir e olham para onde devem olhar. Do silêncio dos ouvidos que não querem encontrar os erros das palavras, das sílabas, das falas. 

Eu entendi que o silêncio tinha que estar dentro de mim para que eu pudesse um dia alcançar o coração. E aí eu estaria sem conflito, não queria mais impor a minha verdade à verdade de ninguém, impor o meu mundo ao mundo de ninguém, não veria tantas injustiças, porque dentro de mim haveria mais compreensão.

As pessoas não iriam mais precisar se justificar tanto para mim, porque eu iria compreendê-las antes das palavras virem às suas bocas. 

 

Meus filhos, meus amados filhos, eu ofereço a vocês o maior presente que alguém pode ter, o presente da minha iluminação, que foi o silêncio. 

Silencie, aprenda a silenciar a mente e o coração. E assim a vida de vocês terá dado um passo para a solução de qualquer conflito que vocês carreguem dentro de vocês, de qualquer dor, de qualquer pobreza, de qualquer mágoa, de qualquer insatisfação, de qualquer desejo não completado. 

 

Silêncio, como eu sempre falo, eu não nasci Lanto, eu me tornei. Eu aprendi esse caminho para me tornar a pessoa que eu sou. E se um dia eu perder a humildade que o silêncio - e só o silêncio - ensina, então, não mais eu serei quem eu sou.

O profundo Eu Sou de cada um de vocês é preenchido de silêncio e de amor.

Existe uma profunda cura no silêncio e no amor. 

E nessa linda lua de Wesak, esse é o maior presente. 

Porque através do silêncio Deus fala com vocês, através do silêncio ele lhe dá toda a fortuna e a glória, toda a saúde e a felicidade. 

Porque as coisas da vida do mundo, todas vão passar. Agora, vocês são eternos, espíritos iluminados em Deus. 

E quando há essa profunda conexão com Deus, realmente o seu espírito se ilumina. 

Nesse plano de existência em que nós estamos, em que vocês estão todos, nós somos como a lua, precisamos do sol, da energia de Deus para que faça brilhar a nossa própria luz.

E é com todo o meu amor, reverência e silêncio que eu emano para vocês a minha luz. 

Abençoado seja com o silêncio de uma mente sem perturbações, de um coração puro e de profundo amor. 

Recebam amados, recebam.


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