Altar da Chama Amarela por Nô Figueiredo |
Mestre: Lanto
Data: 09/05/2012
Local: Espaço Alpha Lux
Canal: Maria Silvia Orlovas
Áudio: ALPHA LUX 16 ANO 14 (mp3) - Clique aqui
Para onde você vai?
Eu fui um monge e um dia me perguntaram para onde eu ia.
Naquele tempo eu estava há muito pouco tempo envolvido nesse caminho espiritual.
Eu não sabia muito bem os meus objetivos eu sabia apenas que eu estava fugindo
do mundo, fugindo de desavenças na minha casa, de situações de pobreza, de
muito desgaste emocional. E eu achava a minha família a pior família do mundo
porque eram muitos conflitos.
E eu me senti muito importante, muito feliz e especial
quando eu raspei o meu cabelo, quando eu vesti as vestes do monje. Novas,
reluzentes, brilhantes sem histórias como uma roupa nova deve ser. E naquele
tempo eu valorizava muito as coisas novas, eu mesmo era novo. E eu achava que
eu tinha que eu teria que fazer a minha vida, e que o voto pelo caminho
espiritual seria tudo de bom para mim. E quando me perguntaram pra onde eu ia,
eu fiquei muito perplexo com a pergunta porque eu não tinha a menor ideia, eu
iria aonde me mandassem.
Eu estava chegando naquele mosteiro, eu estava chegando
naquele ordem e eu iria pra onde o vento soprasse, o vento dos meus superiores.
E quando a pessoa me perguntou pra onde eu ia, toda aquela sensação maravilhosa
de estar com aquela roupa nova de repente desapareceu porque percebi que eu não
sabia para onde eu ia. Percebi que o meu destino não estava nas minhas mãos, eu
percebi que eu havia me desligado de uma família em busca de um caminho
espiritual e que eu estava caindo numa outra família. E quanto mais eu pensei
no que eu iria responder pra aquela pessoa que me perguntou, menos resposta eu
tive.
Eu busquei dentro de mim, eu queria falar algo bom, algo que
fosse impactante, bonito. Porque eu imaginei que um monge tinha que ter
respostas, um monje tinha que saber o que dizer, tinha que saber o que aconselhar.
E foi ai o primeiro momento em que eu entendi o velho ditado “as vestes não
fazem um monge”. Eu não me fiz monge naquela resposta, nem tão pouco na
pergunta. E o tempo que se seguiu a esse foi um tempo muito difícil pra mim,
porque eu vi que eu tinha fugido de muitos conflitos, que eu não gostava de
conflito. Que eu tinha medo das brigas, que eu tinha medo das pessoas. Que eu
não queria magoar as pessoas, que eu não queria dizer para elas as minhas
verdades, que eu não queria ter verdades.
Eu observei que eu era muito humano, e que eu queria me dar bem com todo mundo, eu queria ser amoroso com tudo mundo, eu queria que todo mundo fosse amoroso comigo, o mundo perfeito, o mundo sem conflito. Era isso que eu sentia, era isso que eu pensava e por isso eu fugi da minha família, a minha família era cheia de conflitos e as pessoas eram cheias de complicações, de ambições, de sonhos, de disputas, de competição. E ai me deram muito chão para varrer, me deram muitos muros pra limpar pra pintar, batatas pra descascar, banheiros pra arrumar. E eu fiquei muito chateado com a minha vida de monastério porque era só trabalho.
Para quem achava que teria grandes experiências espirituais,
que iria fazer orações e nas orações porque eu era um monge iria ter grandes
encontros com Deus, com santos, com espíritos e almas iluminadas. Eu me deparei
numa vida muito corriqueira, talvez mais simples do que a vida que meu pai
levava, que meu pai era um homem das letras, ele sabia escrever, ele recitava
poemas. E de repente eu que tinha tanta vontade de me distanciar do meu pai,
que busquei tanto estar longe daquela família, comecei a sentir saudades dele.
E enquanto eu varria o chão eu pensava o quanto eu tinha desprezado a vida que
ele quis me oferecer. E pareceia um castigo, mas, todas as vezes que eu me
lembrava daquele passado eu tinha serviços mais humildes para fazer.
Pensei muito no meu pai enquanto limpei banheiro, porque eu
desprezei as coisas que ele tinha pra me oferece rolhando para o lado ruim
daquilo que ele também tinha. E foi nesse período que as minhas vestes se sujaram
e se gastaram muito, e que meu cabelo cresceu muitas vezes, e que muitas vezes eu tive que
cortar de novo porque eu não tinha o privilégio que outros tinham de não ter
cabelos. Eu era uma pessoa cabeluda, e foi muito cansativos muitas vezes tirar
os cabelos e ao mesmo tempo eu pensava assim, que também tire os meus maus
pensamentos. Porque eu me lembrava dos meu irmãos, eu me lembrava da minha mãe,
e tantas foram as lembranças de um tempo que eu não seu precisa do tempo que eu
vivi nesse monastério, eles me deram o direito de ver a minha família.
E quando eu me encontrei com eles eu percebi que eu estava
muito mais silencioso, que eu tinha forças pra me manter em silêncio, pra ouvir
aquelas pessoas, pra observar os seus jestos, pra observar os seus movimentos.
Eu vi que eu tinha o meu silêncio para oferecer a eles, e através do meu
silêncio eu ouvi tantos histórias que eu nunca ouvi, e que essas pessoas sempre
falaram para mim, mas, eu era jovem e eu não tinha paciência de ouvir ninguém e
eu achava que a minha verdade era a grande verdade. E eu não tinha nenhuma preocupação
em me colocar no lugar do outro, pra ouvir a vida do outro. Eu queria me
colocar a minha verdade, e de repente eu estava ali ouvindo.
E eu fui tratado com bons olhos, e eu fui recebido mais
forte no coração porque eu me permiti sentir com o coração. E aquilo abrandou
muitos dos meus sentimentos, abrando muito das minhas dores, me trouxe força. E
quando eu voltei pro monastério eu sabia que eu estava dando um passo
importante, e se alguém me perguntasse pra onde eu ia naquele momento eu
saberia a resposta. Eu estava indo pra um lugar que só eu podia ir, e esse
lugar era o meu coração. Depois desse tempo eu entendi que a espiritualidade
estava no meu coração, e que aquela paz que eu queria tanto ver nos
relacionamentos, nas pessoas, no mundo, tinha que estar dentro de mim.
E eu entendi também que a paz tem início no silêncio, e não
apenas no silêncio dos lábios que não se movem, da língua que não é usada para
soprar sons, mas, no silêncio do coração sem conflito, no silêncio da mente sem
julgamento, no silêncio dos olhos que se deixam conduzir e olham para onde
devem olhar. Do silêncio dos ouvidos que não querem encontrar os erros das
palavras, das sílabas, das falas, eu entendi que o silêncio tinha que estar dentro
de mim pra que eu pudesse um dia alcançar o coração. E ai eu estaria sem
conflito, não queria mais impor a minha verdade a verdade de ninguém, impor o
meu mundo ao mundo de ninguém, não veria tantas injustiças, porque dentro de
mim haveria mais compreensão.
As pessoas não iriam mais precisar se justificar tanto pra
mim, porque eu iria compreendê-las antes das palavras virem as suas bocas. Meus
filhos, meus amados filhos eu ofereço a vocês o maior presente que alguém pode
ter, o presente da minha iluminação que foi o silêncio. Silencie, aprenda a
silenciar a mente e o coração. E assim a vida de vocês terá dado um passo para a
solução de qualquer conflito que vocês carreguem dentro de vocês, de qualquer
dor, de qualquer pobreza, de qualquer mágoa, de qualquer insatisfação, de
qualquer desejo não completado. Silêncio, como eu sempre falo eu não nasci
Lanto, Eu me tornei. Eu aprendi esse caminho pra me tornar a pessoa que eu sou,
e se um dia eu perder a humildade que o silêncio e só o silêncio ensina, então,
não mais eu serei quem eu sou.
O profundo Eu Sou de cada um de vocês é preenchido de
silêncio e de amor, existe uma profunda cura no silêncio e no amor. E nessa
linda lua de Wesak, esse é o maior presente. Porque através do silêncio Deus
fala com vocês, através do silencio ele lhe dá toda a fortuna e a glória, toda a
saúde e a felicidade. Porque as coisas da vida do mundo, toda vão passar. Agora
vocês são eternos, espíritos iluminados em Deus e quando há essa profunda
conexão com Deus realmente o seu espírito se ilumina. Nesse plano de existência
que nós estamos, que vocês estão todos nós somos como a lua, precisamos do sol,
da energia de Deus pra que faça brilhar a nossa própria luz.
E é com todo o meu amor, reverência e silêncio que eu emano
pra vocês a minha luz. Abençoado seja com o silêncio de uma mente sem
perturbações, de um coração puro e de profundo amor. Recebam amados, recebam.
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