sábado, 30 de junho de 2012

Mestre Lanto - Prato do dia

Venha participar da meditação dinâmica e canalização dos Mestres Ascensos da Fraternidade Branca, todas as quartas-feiras às 20h30. Sinta a energia, faça parte desse encontro de amor e luz.
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Nome Chave: Prato do dia
Mestre: Lanto
Data: 11/07/2012
Local: Espaço Alpha Lux
Canal: Maria Silvia Orlovas
Áudio: 
 ALPHA LUX 25 ANO 14  (mp3) - Clique aqui




Prato do dia

Um dia eu passei fome. E houve muito sofrimento no meu caminho, na minha trajetória.

 

Eu havia feito um voto de renúncia, eu me tornei um renunciante, só que eu ainda era jovem, ainda era carregado de instintos, sonhos e desejos.

 

Eu resolvi renunciar, me tornar um renunciante, porque eu não tinha uma solução para minha vida, para os meus problemas, eu não sabia como resolver as minhas questões. E me tornar um renunciante foi uma fuga.

 

E um dia em que eu cortei os meus cabelos, eu recebi um prato, uma caneca e uma colher. E me disseram que eu caminhasse, que me cabia caminhar, e que a comida viria para mim. Que eu tinha que confiar, confiar profundamente em Deus. Que sempre passaria pelo meu caminho uma boa alma. E essa Alma iria me nutrir, me oferecer o alimento que eu precisasse. Iria me dar um cobertor se eu sentisse frio, a água. Que Deus iria se manifestar e que eu teria isso tudo que eu precisava. E eu fui caminhando...

No começo, eu não sabia o que doía mais, se eram os meus pés, se era o meu estômago ou a minha cabeça. Porque tudo o que eu era, doía: os pés, de tanto andar, a barriga, de fome... E a cabeça, de dor mesmo, dor física, não eram as dores dos meus pensamentos, mas eles também me perturbavam. E muitas vezes, meus pensamentos quiseram me roubar do caminho. E eu estive muito próximo de fugir da minha renúncia.

 

 O pensamento falava assim:


“Vai embora, você está louco? Quem que vai dar comida para você? Olha os seus pés, estão machucados! Você nunca passou fome antes na sua vida, volta para sua casa! Não importa que o seu pai fale coisas para você, que você seja desrespeitado, isso vai passar, volte para sua casa! Volte para a casa dos seus pais, se sujeite às regras deles!”

 

Mas eu não podia. No começo, o que me segurou no caminho espiritual, no meu caminho de renúncia, foi o orgulho. Porque eu não podia voltar para trás e me sujeitar a todas as críticas que eu iria ouvir. Eu não vinha de uma família de crentes, a minha família não acreditava na vida espiritual, nem eu sabia se eu acreditava na vida espiritual.

 

E aí eu comecei a questionar tudo, os meus votos. E comecei a pensar: “Ah, o meu cabelo cresce! Ah, se eu voltar, eu vou tomar um banho, e meus pés, em uma semana vão estar bons.”

 

E aí eu ficava imaginando como seria, eu voltar para a casa dos meus pais, para a aldeia em que eu morava, para o meu grupo de amigos. Porque todos tinham ficado muito impressionados com aquilo que eu tinha feito. Então foi o orgulho que me segurou.

 

E aí eu passei a primeira noite quase que em claro, de tanto frio, deitado no chão. E enquanto eu estava ali naquele canto, onde eu consegui me alojar, pior que um cachorro, eu me lembrei das pessoas que eu não ajudei. Eu me lembrei de tantas pessoas que passaram por mim e eu não tive uma palavra, um toque, um sorriso, uma gentileza, uma oferta de compreensão ou de carinho, quanto mais um cobertor ou um prato de sopa.

 

E me lembrei também (que noite longa) de tantos pratos de comida que a minha mãe me ofereceu, e eu reclamei. Dizendo que era pouco, dizendo que não gostava, dizendo que não comia isso ou aquilo. Lembrei do meu desrespeito a ela, que não era uma santa, mas era a minha mãe.

 

E o dia amanheceu, e quando o dia amanheceu, eu estava tão irritado, com tanta fome, tão cansado, mas não sei se foi o calor do sol que me aqueceu, e aí sim, eu dormi.

 

E quem passou por mim me chamou de vagabundo. Eu não era mais um renunciante, eu era um vagabundo. E quando eu ouvi aquilo, eu me pus a caminhar, mas fui pensando: “Quantas vezes eu julguei errado as pessoas. Eu olhei para as aparências de um fato, de uma situação, de uma pessoa... E nela eu taxei a minha verdade. Quantas vezes eu fiz isso!”

 

E a semana foi passando.

Um dia ou outro eu contava com a boa vontade de alguém que me oferecia um pão, um resto de comida, uma fruta. 

Eu me lembro bem de um dia em que eu sentia muita fome, e passou por mim um garotinho, chupando uma bala. E nós nos olhamos nos olhos, e ele tirou da boca dele e pôs na minha boca. Quando que eu, na minha vida e no meu jeito de ser e de pensar, chuparia a bala de uma outra pessoa que eu nem conhecia. Uma bala que passou pelas mãozinhas sujas dele, que brincava no chão. Mas aquela bala aliviou a dor da minha garganta e adoçou o meu coração, porque ele me deu com amor.

 

Eu poderia passar dias a escrever muitas páginas num livro contanto para vocês qual foi o meu prato do dia. Muitas vezes eu desejei ter o que lavar daquele prato que nem sujo ficou. E entendi porque as vestes de um monge são amarradas no corpo. Porque, de acordo com as penitências que a vida lhes impõe, um monge pode emagrecer ou engordar.

 

E a minha experiência foi conviver com a restrição, porque eu não reconhecia nada do que eu tinha, não reconhecia as pessoas a minha volta, eu não tinha gratidão.

E não ter gratidão, não manifestar a gratidão, é um grande empecilho no caminho espiritual. E eu não sabia olhar para os outros e ver o bem que me faziam. Eu não sabia olhar para a vida e reconhecer as coisas que graciosamente Deus me ofereceu.

 

Quando comecei a fazer as pazes com a minha própria escolha e com o meu destino, depois de um tempo que eu não sei contar, a vida começou a ficar mais fácil.
Um dia eu me sentei debaixo de uma mangueira, e comi tanto, tanto, tanto...

 

Fui tão feliz! Só que a gula teve um preço muito alto, e vocês já imaginam no que se transformou aquela minha orgia gastronômica. E nesse dia eu aprendi o poder da restrição também, de não se fartar, de não se deixar na gula. A restrição nos ensina. Não apenas no alimento, mas em tudo da vida que nós não temos.

 

O meu aprendizado foi de me abrir para os caminhos, de me abrir para a fé.

E eu percebi que quanto mais eu deixava as coisas acontecerem, e ia seguindo o meu percurso, mais facilmente eu entendia as lições que Deus estava me colocando.

Porque, mesmo sendo um renunciante, eu tinha uma rota, eu tinha um objetivo final.

Eu deveria chegar, no meu tempo, a um mosteiro, que ficava a muitos quilômetros de distância.

 

E eu estou aqui hoje para dizer a vocês, que vocês também têm uma rota.

Vocês também têm um caminho, um objetivo final.

E esse caminho e objetivo final é a sua elevação espiritual, o seu aprendizado.  

E todas as pessoas e as restrições que elas colocam em suas vidas, e os aprendizados que elas colocam em suas vidas, e a oferta que elas fazem para vocês, de amor ou de dor, fazem parte de importantes lições que vocês devem aprender.

 

Não esmoreçam e não se apeguem ao drama do dia.

Porque o drama do dia também irá passar. As noites sem dormir, também irão passar. Uma mangueira carregada de belos e doces frutos, também vai passar.

O que causa o grande sofrimento é o apego que vocês têm aos seus desejos e a necessidade enorme de realização, daquilo que vocês criaram para vocês.

 

No momento em que vocês aceitam caminhar e viver, experimentando o prato do dia, consumindo aquilo que Deus ofereceu para vocês, neste dia vocês serão infinitamente mais leves e mais felizes.

 

E foi assim que eu fui me resolvendo... Eu amanhecia o dia, quando o sol raiava, para ninguém me chamar de preguiçoso.
E quando esse sol raiava, eu perguntava pra Deus:
“E aí meu pai, qual será o prato do meu dia? Qual é o prato do dia?”

 

E aí eu caminhava, encontrava as pessoas, conversava com as crianças, jogava com elas, ajudava aqueles que precisavam da minha ajuda. Deixei de ser silencioso, porque eu passei uma época com muita raiva, mágoa mesmo, e aí eu fiquei silencioso.

Mas não era um bom silencio, era um silêncio de dor.

Eu venci esse silêncio.

 

E aí, quando eu passava perto de alguém, eu cumprimentava, eu sorria.

E quando conversavam comigo, eu contava as minhas histórias, mas eu tinha bons ouvidos para ouvir as histórias das pessoas.

Num certo momento eu apressei meu passo, imaginando como seria o mosteiro, porque eu já estava perto. E a sabedoria Divina também me mostrou que eu podia serenar o meu passo e aproveitar mais as experiências, e reconhecer que eu também tinha medo de chegar ao objetivo final, porque eu não sabia o que depois a vida iria me reservar.

 

Foram muitas experiências. Eu ouvi aquilo que estava de fora de mim, e aprendi a ouvir aquilo que vinha de dentro de mim.

 

Meus amados irmãos, a lição que eu deixo aqui hoje é para vocês saborearem o prato do dia, reconhecendo o que lhes é oferecido hoje por Deus, pelo Universo, pela Vida, pelos seus Irmãos.

E se é isso que lhes cabe hoje, façam bom uso, mas não comam demais. Comam apenas, aquilo que lhes pode saciar. E se por acaso a comida de hoje não for boa, for uma comida estragada, deixem de lado, porque vocês também podem fazer isso.
E, ao contrário, se a comida for boa demais, cuidado, lembrem-se das minhas mangas.

 

Um monge, como eu, tem muitas histórias, porque o caminho é longo. Mas eu descobri que o mosteiro, para chegar até o mosteiro, eu tinha que ter dentro de mim uma grande paz, um grande amor, uma grande consciência...

De ser de Luz, de ser de Paz, de ser de Amor. E é isso que eu desejo a vocês.

 

Vocês, cada um de vocês é uma lamparina acesa no seu mundo.

Nunca se menosprezem!

Cada um de vocês é uma lamparina, na sua casa, na sua família, com os seus filhos, com os seus irmãos, com os seus amigos, com os desafios do seu trabalho, com o seu marido, com a sua esposa. Cada um de vocês é um Ser de Luz.

 

Não evitem as pessoas, nem os problemas que elas trazem.

Vão com Luz, com Amor, com Paz, resolvendo cada uma das questões.

Aproveitando, como puderem, com sabedoria, o prato do dia.

 

Eu sou Lanto.

E na energia dos Budas, de todos aqueles da minha linhagem, que se iluminaram na sabedoria, eu abençoo vocês, com o meu Amor e a minha Luz.

 

Tenham Paz.

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