domingo, 3 de março de 2013

Não olhar para os problemas



Será que resolve?
Recebi Olga neste início de ano. Mulher bonita, com seus cinquenta e poucos anos, foi logo dizendo que resolveu vir me ver depois que nada aconteceu em 21 de dezembro de 2012. Fiquei olhando para ela sem entender o que exatamente ela esperava que acontecesse naquela data, mas nem tive tempo de pensar, pois ela foi logo falando que precisava resolver sua vida e que não queria sofrer mais. Estava se tratando de um câncer no seio e precisava de ajuda. Expliquei, então, como funcionava a sessão de terapia.

A sessão de Vidas Passadas mostrou uma mulher forte, casada com um fazendeiro que a deixou viúva, moça ainda, tendo que criar os filhos, sem dar espaço para nenhuma outra história. Sua vida era trabalhar, cuidar da casa e mostrar para a família e o mundo que era uma vencedora, que dava conta de tudo. Quando terminamos essa parte da sessão, ela disse que se identificava com o que foi mostrado, que hoje ela tinha marido, mas que continuava cuidando de tudo. O marido viajava muito e ela tomava conta do dia a dia da família, mas não queria se separar, pois achava que os filhos precisavam daquela estrutura. Quando perguntei se ela amava o marido, ela demorou para responder, depois disse secando lágrimas teimosas que escorriam no rosto:
- “Não sei se amo. Não sei se quero olhar para isso”.

Depois, num grande desabafo, ela falou da sua dificuldade em olhar para seus sentimentos. Disse que foi educada para manter as aparências, para mostrar para a família, amigos que estava sempre tudo bem, mesmo quando não estava. Disse também, que sua mãe agia assim, que evitou uma separação quando seu pai arrumou uma amante, e que ela queria que sua família fosse feliz.

Mas e você está feliz? Perguntei não querendo magoá-la, mas ao mesmo tempo tentando mostrar a importância de olhar para suas escolhas, e rever sua conduta. Afinal, é para isso que se propõe uma sessão de terapia. Principalmente quando a pessoa está sofrendo com um câncer e tentando se curar. Quando a doença se manifesta no corpo físico, com certeza, muitas coisas sofridas estão guardadas no corpo emocional e também espiritual.

Nossas experiências ficam armazenadas no inconsciente e uma hora ou outra, quando o bolo estiver muito pesado, simplesmente aquela energia presa se soltará espalhando emoções.
Olga disse que queria ficar mais leve, mas que não sabia se estava pronta para olhar para sua vida. Imaginava que algo novo deveria ter acontecido em 2012 e que sua vida simplesmente ficaria melhor, como num milagre. Perguntei, então, se ela acreditava em milagres, e ela me disse que o fato de estar ali comigo, já era um milagre, já que vinha de uma família que não acreditava em coisas assim.

Apesar da forma muito diferente de olhar a vida, senti uma grande empatia com aquela mulher. Tínhamos praticamente a mesma idade, e eu podia imaginar o que ela estava sentindo pois perdi minha mãe com a mesma doença, e foi inevitável olhar para ela e lembrar de atitudes da minha mãe, que até o ultimo momento de vida evitou falar de si mesma. Como se falar das fraquezas fosse algo ruim, negativo. Como se nós não tivéssemos problemas, atitudes erradas, ou não cometêssemos enganos.
Olhei com compaixão e ofereci o meu melhor silêncio, pois percebi que ela estava tomando coragem de falar de si mesma.
Fico pensando em quantas mulheres se sentem como a Olga, sobrecarregadas, comprometidas em manter um lar feliz, fazendo mil sacrifícios que ninguém enxerga para manter a família. Parece incrível pensar assim nos dias de hoje, mas essa não é uma atitude do passado, algo que minha, ou a sua mãe fez no passado. Muitas moças jovens não falam o que sentem, não se dão o direito de expor suas emoções.

Concordo com aquelas pessoas que acham que não devemos focar nos problemas, que não devemos dar força para coisas negativas e acho que para manter um relacionamento feliz precisamos, sim, fazer concessões, mas ao mesmo tempo tenho certeza que não podemos abrir mão de olhar para nós e buscar compreender até que ponto podemos ceder.
Em tudo há um bom senso, uma hora de agir, uma hora de parar. E somente o bom senso, obtido através do autoconhecimento, oferece essa sabedoria de lidar com a vida.

Vendo as pessoas, aprendendo com as histórias da vida, posso afirmar sem medo de errar que não olhar para os problemas não resolve nada. Em alguns casos, apenas adia uma tomada de atitude, mas em outros, complica ainda mais a vida das pessoas. Precisamos é de coragem para enfrentar algumas coisas que nós mesmos criamos, e muita luz espiritual para continuar vivendo com fé e esperança, mesmo quando nos sentimos infelizes, porque, afinal, como dizem os Mestres, tudo passa, e temos a eternidade para aprender!


2 comentários :

  1. Olá Maria Silvia,
    Meu nome é Eliane e me identifiquei com a história dessa senhora,pois eu com 37 anos estou começando minha batalha contra um câncer no útero. Confesso que tenho medo do desconhecido e ao mesmo tempo me dou conta que ainda não tinha valorizado tanto minha vida e também nunca havia sentido tanta vontade de viver como sinto agora...

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  2. Eliane Martins,

    Seu medo é totalmente compreensível, mas vamos encarar tudo isso de frente.
    Invista no seu caminho espiritual, em se amar mais.
    Venha conhecer o meu espaço aqui em São Paulo. Será um prazer receber você.

    Beijos,

    MS

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